Ana Fernandes - Vamos começar com o seu percurso
profissional.
Sônia Marques - Podemos começar falando
de minha formação, na FAUR, a Faculdade de Arquitetura
da Universidade do Recife, (que depois virou um curso da Universidade
Federal de Pernambuco) onde a formação era exclusivamente
para projeto. Mas, independentemente da orientação
do curso, na minha turma os que se deram bem, posteriormente,
no mercado de projeto, foram aqueles, que, desde o segundo
ano da faculdade, começaram a trabalhar na prefeitura,
com aprovação de projeto. Curiosamente, porque
a meu ver, isto indica que, de fato, a qualificação
para atingir o mercado de projeto, para além do aprendizado
na faculdade, vinha, no caso, pelo fato destes colegas ocuparem
um posto de onde podiam conhecer a rede. Este foi o capital
- no sentido de Bourdieu - que eles mobilizaram, para ingressar
no mercado de trabalho: ligação com grupos de
escritórios, grupos de construção, então
esse pessoal foi para a prefeitura e trabalhou com aprovação
de projetos e para escritórios locais. Isso aconteceu
em 65. Na verdade, eu deveria dizer elas, porque eram sobretudo
mulheres que ficaram em escritórios, e cujos escritórios
ainda são bons escritórios até hoje.
Bons no sentido de terem até hoje trabalho de edificações
de dimensão razoável que lhes permite viver
como autônomas. Embora, quando examinada a composição
interna destes escritórios, observe-se que algumas
pessoas dos grupos originais tenham migrado para outras áreas,
como ensino e planejamento. De qualquer forma, retomando o
que dissemos inicialmente, a orientação do curso
e a expectativa das pessoas era fazer projeto de edificação.
Então, na virada, justamente no terceiro ano, eu compreendi
que não ia dar, porque eu não tinha mobilizado
capital suficiente para estar em escritório. A chance
que eu tinha tido eu joguei fora. Cheguei no quinto ano sem
ter passado por uma prefeitura. Nos grandes escritórios
em que eu fui, não gostei... Num dos escritórios
onde fui chamada, não passei nem dois dias. Isso, quando
você chega no quinto ano, a sua sorte já esta
selada. O último escritório que eu fui, e, onde
mais uma vez joguei fora a chance, foi o de Armando Holanda.
Armando Holanda estava trabalhando com aquela reforma do Morro
Guararapes, ligada ao IPHAN. Lá eu trabalhava com um
colega meu, hoje professor na Paraíba, Alberto de Souza.
Eu estava no quinto ano e me sentia tão pouco à
vontade, naquele mundo da prancheta, já estava tão
estressada e calejada pelo "rapport" com os professores
de projeto, que não acertava a fazer mínimas
coisas óbvias que eu sabia fazer e ia para o escritório
todo dia doida que terminasse o contrato e que eles não
me contratassem de novo. Enfim... aquele mundo de projeto
era meio complicado para mim, como socialização,
eu não me convencia das coisas, do modo como eram feitas
as escolhas.. Foi quando Geraldo Santana - que era meu professor,
conversava muito comigo e, nesta época, estava envolvido
com a criação da FIDEM - me levou para ver umas
palestras de Maria Adélia (de Souza) e acenou com a
história de eu sair para Urbanismo. Havia aquela história,
na época, de Urbanismo como a arquitetura com preocupação
social. Aquela pílula falsa que nos venderam: "
Arquiteto de prancheta é não sei quê...
Mas o urbanismo tem uma preocupação social,
para redimir a humanidade." Então comecei com
essa "coisa" de Urbanismo e Geraldo falou: "Olha...vai
cuidar de sua vida, que está complicada sua vida profissional.
Ou : " vai fazer história da arte..." que
era o que ele aconselhava. Ou ainda : "vai embora para
Urbanismo". Ai eu fui fazer Sociologia Urbana na França
com Raymond Ledrut. Foi quando eu encontrei Lícia Valadares,
que estava terminando o Doutorado dela com Raymond Ledrut.
Comecei sociologia Urbana mas, não acabei, porque nessa
época minha mãe adoeceu e morreu de câncer
e eu voltei para o Brasil. Em compensação entrei
para trabalhar no CONDEPE, que era um órgão
estadual. Não sei a que corresponde aqui...
Ana Fernandes - A antiga CONDER...
Sônia Marques - Fui então trabalhar no
CONDEPE, em habitação. E daí, eu compreendi
que não era absolutamente essa a minha praia. Porque
foi o pior período profissional da minha vida. Estava
naquelas coisas do BNH, que acaba com a COHAB. Então,
o tipo de inserção profissional e o meio de
planejadores...eu passava mal, eu vi que não era realmente
a minha praia.
Lauro Bernardes que era o todo poderoso da FIDEM, a instituição
metropolitana teria dito a alguém, segundo chegou aos
meus ouvidos no CONDEPE, que me chamaria para FIDEM o organismo
metropolitano, que estava sendo formado, co-optando "os
melhores quadros" das outras instituições,
a partir do próprio CONDEPE, onde a FIDEM inclusive
esteve sediada inicialmente. Era um daqueles processos de
reestruturação institucional: quando ocorre
um esvaziamento, como houve com a SUDENE que ficou "arcaica"
os melhores abandonam o barco antes, ou são puxados
para outro órgão. Então, quem ia para
FIDEM, na época eram considerados os melhores. Você
sair do CONDEPE para a FIDEM era considerado um upgrade profissional.
Mas eu não queria de jeito nenhum ir para a FIDEM.Mais
uma vez foi Geraldo Santana, a quem eu devo muitas coisas,
quem me trouxe uma luz, quando disse: você vai fazer
concurso. Então eu fiz concurso. Estudei para o concurso,
e quando saiu a nomeação eu pedi demissão
da CONDEPE. Aí eu resolvi que a Universidade era a
minha praia mesmo! Geraldo achou que eu era louca: "Peça
vinte horas, você fica lá e vai ter uma renda
maior". Eu nem quis saber, e disse que não ficaria
nem mais um dia no CONDEPE. Fui também fazer mestrado,
para sociologia. Eu já tinha feito vestibular para
sociologia, tirado o primeiro lugar, tinha ganhado uma bolsa
na Universidade Católica, mas não havia cursado.
Mas, depois resolvi fazer e entrei para o mestrado exatamente
na mesma época em que entrei como professora do departamento
de arquitetura da UFPE. Não quis fazer MDU, Mestrado
de Desenvolvimento Urbano, porque no MDU reinava então
o mesmo ambiente profissional que eu via no CONDEPE! Era todo
mundo com perfil de consultor, de secretário de Planejamento,
o curso tinha uma vocação de consultor, eu detesto
e detestava o Mestrado de Desenvolvimento Urbano. Este mestrado
tinha, então, um ou dois anos, mas, estava muito reconhecido
e as teses de MDU eram assim muito associadas às demandas
institucionais, ao fornecimento de modelos para a FiDEM ou
pesquisas para a SUDENE. Tanto que brincavam dizendo que deveria
ser chamado de Mestrado de Desenvolvimento Rural, porque muita
das pesquisas junto à SUDENE eram na área rural.
Comprometimento, mercado de desenvolvimento urbano. Na verdade
isso funcionava como consultoria... Eu disse: "Não
quero, eu quero mesmo é academia, tô fora!".
Fui me embora para sociologia. A decisão de sociologia
foi, assim, de um lado mesmo por conta da busca de uma maior
reflexão, lado que a sociologia parecei oferecer-me
melhor e que eu já havia começado a desenvolver
em Toulouse...Mas foi também para fugir do MDU. E porque
não tinha arquitetura, e, na época, eu não
podia sair de Recife. Eu decidi que ia fazer, e minha praia
era história da arquitetura, história contemporânea...
Eu havia sido monitora da desta disciplina na Unité
Pédagogique D'Architecture em Toulouse e quando entrei
para ensinar na UFPE, no currículo arquitetura internacional
distribui-se numa seqüência de disciplinas, arquitetura
brasileira noutras. Como eu passei no mesmo concurso com Geraldo
Gomes, ele ficou com brasileira, que era a praia dele. E eu
fiquei com a Internacional. Depois disso, basicamente a experiência
foi essa... com algumas saídas mais para o meio sociológico,
aí volta para arquitetura e ficou um pouco assim...
E depois a grande experiência que foi trabalhar com
o patrimônio. Realmente, pegar o IPHAN foi para mim
um outro corte. Por que mesmo o doutorado que foi uma grande
experiência, na École des Hautes Études
em Sciences Sociales (Paris) não resultou de uma grande
decisão. Eu terminei chegando na École, porque
a decisão primeira, em função da qual
nós nos conhecemos, era para o IEFDES. Porque o MDU
começou com aquela história de movimentos sociais
e de discutir o Estado. Naquela época em que entender
de Urbanismo era falar do ponto de vista da economia... E
foi nessa época que Pierre (Salama) veio ao MDU e eu
fui traduzir o curso dele. Eu havia lido Marx, conhecia aquele
tipo de raciocínio, li os livros de Pierre antes dele
chegar para dar o curso e quando ele chegou a gente fez uma
amizade muito grande. E eu falei: "você me orienta?".
E ele: "É claro!" E mais uma vez eu entrei
no "bonde" de pensar o planejamento de estado e
quando eu cheguei lá no IEDES vi que não era
nada disso. Foi por isso que uma vez lá, eu terminei
voltando para sociologia e indo para a École. Não
foi a primeira escolha não. Foi só quando vi
que geografia e planejamento urbano realmente só é
a minha praia, como objeto de estudo crítico, historiográfico,
não com a vocação de planejadora, consultora.
Ana Fernandes - Por quê a experiência
com o IPHAN incomodou tanto?
Sônia Marques - Porque foi uma virada profissional
definitiva. Eu havia voltado da França, em 90, sem
o Doutorado terminado e a minha situação começou
a ficar difícil. Depois o doutorado era em sociologia
mesmo e, embora este aspecto pareça não ter
interesse do ponto de vista do mercado de trabalho, o ponto
central parece-me ser o seguinte: essa coisa de sair da área
de arquitetura, no que se refere à minha geração,
não foi escolha, foi uma coisa meio...não é
exílio... Para quem gostou de planejamento, quem tem
vocação de consultor ou executivo e saiu da
militância política para o poder do estado...acho
que o caminho pode até ser sentido como um processo
natural. Mas, para quem tinha, como eu, uma tendência
mais acadêmica, quando a área de pesquisa e pós-graduação
em arquitetura não estava estruturada, o fato de ter
saído, porque estava buscando um lugar para estudar,
e chegar com "essa coisa" na área de sociologia
e inacabada ... parecia que eu havia perdido toda competência
profissional. Eu não estava fazendo projeto, não
suportava o mercado de projeto, mas havia visto muita arquitetura
por onde havia andado, continuava estudando arquitetura, mas
não agüentava fazer planejamento urbano. Bom,
se eu não gostava na época do macro-planejamento,
também não ia gostar do pequeno, desta estória
de plano diretor e participação social: "Dona
Maria, o que a senhora quer para consertar sua rua?"
É muita capacitação para essas besteiras,
orçamento participativo... Sobretudo quando o plano
local passa por outras situações, que você
não está disposto a pagar... Então eu
comecei a sentir aquela coisa de que estava em meio a um grande
investimento, mas, também na praia dos outros, onde
eu era peixe pequeno. Eu consigo conversar na área
de sociologia bem, mas no limite de algumas áreas como
a Sociologia das Profissões, com algumas pessoas e
tal. Porque os meninos de sociologia no segundo ano já
são bolsistas, já publicaram três ou quatro
livros. Então, eu entrei no campo deles completamente
"desclassificada", na acepção de Bourdieu
eu senti um déclassement, uma perda do status profissional.
Já entre os arquitetos, a sensação era
de que, na verdade, apesar de um esforço enorme de
qualificação eu não passava de uma "professorazinha".
O IPHAN me deu a possibilidade de superar isto. Porque o IPHAN
é uma instituição dos anos 30, atravessada
pela memória de Lúcio Costa. Então, eu
acho que o IPHAN tem algo muito emblemático. Só
os aristocratas da profissão estavam ali inicialmente...
Aquela elite que não sabia o preço de um ovo,
que nem o Suplicy que volta para casa da mãe quando
se divorcia... Eles eram lindíssimos, educadíssimos,
umas coisas lindas! Quando eu tentei trabalhar no IPHAN, estudante
e recém-formada não houve chance. E o estágio
era gratuito! Há uma história clássica,
do então presidente do IAB, o Dalvino, que hoje é
um grande executivo em Brasília. Ele trabalhou no IPHAN
três meses de graça no final dos quais foi cobrar
o salário a Dr. Airton (Costa Carvalho) que teria dito
algo assim: "Bom, você está trabalhando
no IPHAN", como se por si só esta condição
fosse uma honra e não um trabalho a ser remunerado.
Dalvino retrucou: "Sim, mas eu tenho mulher, conta de
luz e de água para pagar..." Esse clima meio aristocrático
do IPHAN reina, de certo modo, até hoje! Eu estive
lá na segunda-feira passada no lançamento do
livro do Glauco (Campello). E eles falam: nós da casa,
com um sentido de identidade, de "pertença"
para usar esta fatídica palavra da moda! Então
eu ser chamada para trabalhar na "casa" era a glória!
Evidentemente, que eu só cheguei na casa, porque a
casa estava arruinada! O Collor tinha acabado com o IPHAN
virado para IBPC. Até hoje não sei como nem
porquê Marcos Mendonça o presidente da regional
chegou ao meu nome para a diretoria técnica. Éramos
de fora, os outsiders, alienígenas... Não sei
também como nem porque Glauco (Campello) presidente
do IPHAN chamou Marcos Mendonça. Eu acho que eles temiam
um pouco os nomes disponíveis sempre associados a grupos
locais, não sei. Então, nisso deu a zebra e
um belo dia Marcos Mendonça me alcança, eu que
estava lá numa situação profissional
meio que sem saber o que fazer da vida. E foi assim que cheguei
no IPHAN.
Quando eu cheguei no IPHAN, minha tese ainda não estava
defendida, eu tinha feito todos os créditos para o
Doutorado, estava só escrevendo. No IPHAN eu consegui
trazer de volta tudo em que eu havia pensado e trabalhado...
desde indagações antigas como o que é
ser arquiteto até coisas práticas com as quais
eu havia começado a trabalhar quando recém-formada
(1973/4) fizera um curso de História da Arte onde conheci
muita gente como Dona Lígia, Luís Saia, Silva
Telles. Tudo que tinha sido vivido fazia sentido de repente.
Em 93, o espírito desta geração ainda
pairava no IPHAN, pelo menos na Regional de Recife. Aí
tive também contato com muitos arquitetos que estavam
desenvolvendo grandes projetos, pois uma área importante
de proteção com limitação de gabarito,
que é a dos arredores do projeto Guararapes que soma-se
um cone com gabarito da aeronáutica, coincide com um
dos locais favoritos da especulação imobiliária
e as exigências do IPHAN davam sempre margem à
abertura de intermináveis processos de negociação.
Arquitetos de grande atuação no mercado tinham
que pedir o parecer ao IPHAN. Então vinham aqueles
caras que eram os "grandões", humildemente,
sem a arrogância costumeira em muitos. Isto me mostrou
toda uma cozinha da profissão, coisas várias
de que eu já suspeitava, mas que comprovei no dia-a-dia
profissional. Por exemplo, as estórias do Forte Orange
Holandês, onde um ex-presidiário de Itamaracá,
que hoje se juntou em promoções com o consulado
Holandês - teimava em arrendar o forte Orange, para
fazer show de axé e ia pressionar a gente no IPHAN
porque ele sabia que os grupos interessados nos shows tinham
mais poder que o superintendente do IPHAN. E Marcos Mendonça
sabia disso porque ele era um cara muito vivo, mas os filhos
de Dr. Rodrigo... só faziam lamentar nostalgicamente
o tempo em que se cumpriam as ordens do IPHAN.
Ana Fernandes - O Marcos Mendonça ocupava que
posição na época?
Sônia Marques - O Marcos Mendonça era
o presidente da Quinta Regional. Mas Marcos é um executivo
que veio da Caixa Econômica, de financiamento de BNH.
Era pessoa daquele Marcos Freire, de Recife, que foi da Caixa
Econômica. Então tem outra visão, diversa
da tradicionalmente dominante no IPHAN e estava sabendo com
quem estava lidando. O pessoal não, ficava: "Ah!
Mas quando nós tínhamos poder, no passado, a
testa daquele anjinho barroco não ia cair...".
Enquanto eles estavam falando no anjinho barroco, os interesses
em jogo pegavam pesado. Aí eu comecei a ver como realmente
ali estavam em conflito todas as práticas profissionais
de setenta anos.
Todo dia se tinha embate dessas linguagens todas. Desde dos
que estavam com um empreendimento: um grande hotel em Boa
Viagem... o que é que um cara destes ia fazer? Ele
poderia fazer tudo direitinho, se ele tivesse escrúpulos...
Mas muitos chegavam rindo cinicamente tipo "Não
adianta, se vocês não liberarem eu vou fazer
mesmo!!!" Eu acho que em dois anos de IPHAN eu aprendi
mais do que em não sei quantos anos anteriores de vida
profissional. Tive que olhar projeto também, comecei
a olhar muito, viajar muito para ver o patrimônio local,
que era uma coisa que tinha faltado na formação.
No IPHAN tinha que olhar projeto e obra para aprovar. Então,
voltar a olhar projeto desenhado e representação
também foi legal! Acho que os dois anos de IPHAN para
mim foram bem melhores que o Doutorado. Depois eu sai do IPHAN,
porque tinha que sair mesmo, o povo da "casa" pôs
a gente para fora! E, antes de eu sair do IPHAN, terminei
meu Doutorado...
Ana Fernandes - Tudo isso, você estava na UFPE?
Sônia Marques - Tudo. Eu fui para o IPHAN e
mantive na UFPE a mesma carga horária de aula de sempre.
Eles só me liberaram das demais obrigações
do gênero reunião de departamento e me permitiram
assumir o cargo de diretoria, mantendo o vínculo com
a universidade. Então eu continuei dando aulas, escrevendo
a tese, que acabei e, ainda no IPHAN, pedi um estágio
no patrimônio na França. Consegui uma bolsa e
fui para o Ministério da Cultura ver como funcionava
o patrimônio na França. Juntei uma coisa com
a outra, isto é, aproveitei a ajuda da bolsa e a ocasião
do estágio para ir também defender minha tese...
Foi quando tive a oportunidade de voltar a ensinar no MDU.
Ana Fernandes - E com relação à
tese, das coisas que você trabalhou? Os elementos que
você considerou essenciais para discutir a questão
da profissão.
Sônia Marques - Eu acho que existem muitos artigos,
mas a maioria dos trabalhos sobre a profissão são
feitos por elementos da profissão que não conseguem
ter um distanciamento. Nessa linha de raciocínio, eu
acho, que os trabalhos de Duran, sobre a produção
do arquiteto, com toda limitações e , apesar
de já ter algum tempo e a situação profissional
haver mudado muito, ainda é muito melhor do que tudo
que foi escrito aqui no Brasil sobre a profissão. O
arquiteto não consegue ter distanciamento crítico
sobre si mesmo. Como eu acho, por exemplo, que o trabalho
escrito por Magali Sarfatti Larson, (eu até dei como
sugestão para Marco Aurélio trazer para Salvador
agora em Outubro) É uma socióloga, ela escreveu
"Behind the Postmodern Facade", livro de noventa
e... sei lá. Muito bom! Eu acho ainda o melhor livro
americano. O pessoal da Califórnia do Sul, escreveu
muita coisa sobre profissão, inclusive citando Larson.
Mas como são arquitetos, não fazem uma análise
legal, porque está sempre meio comprometido, tem a
questão d o juízo de valor, quem é bom
arquiteto, as questões de mercado. Enfim, eu acho,
que os melhores trabalhos críticos sobre a profissão,
não são feitos por arquitetos, porque estes
têm sempre uma "tendência corporativista".
Impossível escapar dela, não é mesmo?
Só os suicidas ou esquizofrênicos! Eu não
gosto destes trabalhos. Eu acho que o que me ajudou um pouco
nessa coisa da dissertação foi o fato de que
a ida para sociologia me Obrigou a um esforço intelectual
maior, ainda mais com a escolha de Pécaut, como orientador.
Pecaut é exigentíssimo, não é
marxista, desconfia das coisas de esquerda, acha que são
panfletárias em sua maioria ( noque, na minha opinião,
tem razão, pelop menos para aquela época) não
é "brasilianista", tem horror a brasilianista.
Ele estava com ódio dos brasileiros, porque achava
que os brasileiros não eram sérios, eram muito
ideólogos. Tanto que ele colocou todos os brasileiros
que estava orientando para fora, só ficou comigo até
o fim. Então, ele me exigiu que a bibliografia não
fosse latino-americana, exigiu que eu lesse em inglês.
Foi a primeira pergunta dele: se eu lia inglês. E como
exigência que eu trabalhasse com sociologia das profissões.
E, eu acho, que foi tudo que eu queria na vida! Por isso sou
extremamente grata a ele!
Ana Fernandes - Você, do ponto de vista desse
trabalho, quais os elementos essenciais para avaliação
e compreensão da profissão do arquiteto e urbanista?
O que você acha que são as principais categorias
da área que ajudam a entender essa profissão
e a evolução dela no tempo?
Sônia Marques - Eu acho que a primeira coisa
é a compreensão da questão do que é
uma profissão e o que é que é o mercado.
Agora, não no sentido econômico estreito, mas,
no sentido das variáveis mais amplas do mercado profissional
e das possibilidades de ingressar e inserir-se nele com sucesso,
como o fato de ter uma herança de um capital ideológico...
Então, não é possível ver a questão
da inserção, apenas através daquelas
estatísticas que vem do IAB ou do Sindicato. Eu acho
que aquilo pode ser uma oportunidade, uma entrada. Por exemplo,
o problema do modernismo e a crise de prestígio que
se assistiu em países como a França ou os EUA
é completamente diferente no Brasil, onde a presença
de Niemeyer... Mas enfim, você tem uma geração
que ainda está viva e que ainda controla algumas posições.
Aqui a questão ideológica foi outra, associada
a quem foi, quem ficou, como a ditadura influiu no mercado.
Quem controla ainda algumas coisas num país em que
um "Francisconi" - para dar um exemplo emblemático,
um dos dois autores da política urbana - volta a ser
professor na UNB? Quem são pessoas que têm determinadas
influências?
Ana Fernandes - Eu quero mais uma delas...
Sônia Marques - Há também uma
questão importante na análise profissional que
diz respeito aos próprios modelos de referência
para a formação, que são completamente
diferentes, num país e noutro. Então, eu acho,
que tem umas coisas exemplares aqui... Contou-se muita coisa
aqui sobre a influência de Le Corbusier. Mas ele não
foi modelo para França... Le Corbusier na França
e nada é a mesma coisa! Nenhum estudante de arquitetura,
na França, teve Le Corbusier como modelo profissional,
como aqui teve Niemeyer. Le Corbusier, na França, tem
um outro nível de influência, aliás, muito
maior agora, finalmente, do que foi enquanto vivo. Eu acho
que Duran está certo nisso, essa coincidência
dos processos no Brasil, tanto da adoção da
linguagem modernista, quanto da afirmação profissional
, juntamente com o reconhecimento internacional, conferiu
uma aura e selou um destino: Ser arquiteto no Brasil foi ser
moderno. Essa não foi uma compreensão norte-americana,
nunca, nem tampouco uma compreensão européia,
mesmo quando o modernismo era hegemônico. Essa pode
ter sido uma concepção Canadense, por exemplo,
depois da expo de Montreal de 1967. Portanto, as especificidades
locais são importantes para averiguar a questão
do estatuto profissional.
Ana Fernandes - Isso no Brasil enquanto formação
é moderno.
Sônia Marques - Essa experiência agora
em Natal, tem me enriquecido muito! A turmas para as quais
leciono introdução ao trabalho de graduação,
por exemplo, saem com umas coisas que me permitem pensar no
que hoje é o mercado de serviços profissionais.
Muitos trabalhos de graduação, as monografias
finais de curso de Natal são projetos reais, encomendados,
que vão virar obra construída!. Quer dizer,
uma coisa completamente diferente de Recife, onde os estudantes
concluintes se chegarem, no ano seguinte a reformar o banheiro
de uma tia ou derem um palpite sobre a cerâmica do banheiro
da avó já se dão por satisfeitos. Eles
pensam o trabalho de graduação portanto numa
perspectiva totalmente diferente dos colegas potiguares que
vão fazer porque fulano encomendou, e pensam "eu
vou fazer, meu projeto vais ser construído". O
cara com cinco anos de formado em Recife não tem a
menor ilusão de que, evidentemente, a autoridade profissional
caiu. Em Natal eles nem se dão conta, há uma
extensa clientela, mas pouquíssimo exigente, e o trabalho
profissional é baratíssimo. Aí você
tem uma concorrência maior em Recife do que em Natal,
tem uma concorrência maior aqui em Salvador do que em
Recife, e vai aumentando, tem uma concorrência maior
em São Paulo, onde também com uma clientela
muito mais exigente. Por isto, na minha opinião, -por
mais que eu tenha críticas a um lado muito empírico
norte-americano,- algumas categorias da sociologia das profissões
tais como autoridade profissional, legitimidade, relação
entre autoridade X mercado, nível de organização
da clientela...pelo menos, para mim, ajudam muito a pensar
a questão de serviço de arquitetura. Você
só pode pressionar os preços de seu serviço
profissional quando você tem uma base cognitiva que
é rara. Mas nem tanto, não pode ser tão
rara que ninguém se interesse por ela, ou não
compreenda. É como se você toca harpa ou fala
sânscrito... é tão raro que não
tem mercado! Ou, ao contrário, se você de repente
você faz um negócio que todo mundo fala e faz.
Ana Fernandes - Quais são os três que
você falou? Autoridade, Legitimidade e...
Sônia Marques - E a relação com
a clientela, que é uma relação quantitativa,
como em geral salientam os economistas, mas também
qualitativa. Ou seja, não é só a questão
da quantidade, do tamanho, da dimensão da clientela,
da oferta e da demanda. Mas, também o quanto essa clientela
é exigente ou não. Você tem uma clientela
para tais ou quais serviços, dependendo se ela é
uma clientela organizada ou não, se é ou não
é exigente, você tem tipos de mercado.
Se você tem uma clientela que é altamente organizada
e exigente, você tem outro tipo de mercado.
Ana Fernandes - Se você tem, também conserve,
porque os serviços eles são construtivos. Por
exemplo, a sensação que eu tenho hoje é
que a arquitetura está caindo na vida. Você tem
hoje uma ampliação da clientela de arquitetura,
pelo menos tem do núcleo de pessoa que passam a ter
arquitetura como referência ou se não arquitetura
em teste...
Sônia Marques - A Ceça Guimarães,
lá do Rio, que foi colega de "casa", isto
é, do IPHAN e que também é pernambucana,
falou, outro dia, uma coisa ótima. Eu estava falando
do mau gosto, dessas coisas pós-modernas, do Aeroclube
daqui... E ela falou assim: "Mas Sônia, é
a democratização, você sabe Sônia,
Paulo Coelho é um novo Jorge Amado, não é?
E arquitetura é assim também. Se tem mais gente
consumindo serviço. Você queria o quê?".
Eu acho que a Ceça tem toda razão, se tem mais
gente consumindo serviço, é difícil acreditar
que os novos ingressos no mercado seja de pessoas que vão
achar graça naquele galpão de Lelé, que
precisa de um nível de leitura completamente diferente.
Ficar ouvindo Sollers não é tão fácil.
Ë mais fácil ouvir o Sabadão Sertanejo,
com certeza. Mas que tem mais público, eu acho que
sim. Por isso eu não defini as questões que
quero trabalhar no meu pós-doutorado. Porque eu queria
uma interlocução, porque eu queria pensar, eu
acho que o problema hoje é como o do art and crafts
do século XIX, do Morris. Estamos aí com novos
meios de produção do edifício -dos materiais
de construção, aos moldes de gestão,
passando pelas formas de representação- que
o arquiteto tradicional não domina e não mais
sob o domínio de uma elite aristocrática que
caiu...e está aí a máquina. A nossa exposição
universal... e quem vai dar conta disso? Não dá
para ser contra a globalização... Mas também
não dá para aceitar essa coisa que está
aí, essa epidemia de parques tem'ticos, Disneylândia,
vulgarizações. O que vai sair como uma nova
art and crafts? O que vai ser a nova Bauhaus!?! Para mim é
um grande drama!
Ana Fernandes - Mas eu sinto um pouco por aí
também, porque hoje você tem uma reproblematização
das áreas, não só da arquitetura, mas
as áreas em geral, em particular nas universidades,
e que é exatamente isso: um período de transição...
Sônia Marques - Evidentemente que quando você
classifica alguma coisa como período de transição
é uma hipótese.Só se sabe a posteriori
se houve transição de alguma etapa para outra.
Periodizar antecipadamente é sempre ainda mais problemático.
Além disso, a gente sabe que classificar como transição
também tem um débito com um certo raciocínio
evolucionista. Mas, eu admito que só posso pensar desta
forma. Então pensando um pouco assim - que é
como organizo as minhas idéias - eu fico sempre preocupada,
como naquele dia em que eu dormi na casa do Pasqualino, lá
em Itaparica. O Pasqualino já está anos luz
na minha frente e eu não consigo pensar essa coisa
fragmentada. Então, quem sabe, é muito mais
esta abordagem que eu precise para classificar.
Ana Fernandes - de qualquer maneira, independente
de um pensamento mais tradicional. Uma coisa importante é
você perceber existem literalmente dominantes, e que
essas dominantes não são claras e não
sei se estavam claras a cinqüenta anos atrás.
Mas para as pessoas esse período fosse muito mais complicado
de perceber exatamente o papel de cada um nesse processo.
Mas enfim, é nesse redesenhar da profissão que
passa por uma elitização absoluta, por uma desqualificação
total, como é que você vê em termos de
perspectivas.
Sônia Marques - Eu falei mais na minha trajetória,
então o que é que eu pensei... a grande mudança
que eu percebo... Você pega assim os anos 30 e você
tem os prédios, os arquitetos. Estes, se você
conta na mão, são dez, porque aí vem
os outros da Europa... mas até os que vêm de
lá, os Italianos, franceses e outros que sejam... Quando
eles chegam aqui nesse mundo, eles não são ,
não foram considerados arquitetos, porque a formação
de engenheiro aqui era muito mais forte. Eu acho que é
Lúcio Costa mesmo que cristaliza para o país
uma primeira figura do arquiteto, mas, que, na verdade, ela
vai se realizar com Niemeyer. Eu acho que um estudo entre
Lúcio e Niemeyer aponta para paradigma profissionais
diferentes, apesar de estarem os dois sempre juntos: Brasília...
Eu estou propondo outra leitura. Eu estou propondo uma leitura
por geração. Nesta Lúcio vem bem antes,
solidário às suas origens paternas, o pai ,
creio, era Almirante, e a elites pertencentes ao Brasil antes
de ser moderno, antes da revolução de 30, e
que pega isso, junta, faz o discurso nacionalista necessário.
Que Deus sabe onde é que está a nacionalidade
desta arquitetura brasileira!! Mas seja o que ele deseja e
diria que para a igreja barroca... E este discurso é
tão forte, tem uma pregnância tal, que a gente
está em 2002, Glauco (Campello) acaba de lançar
um livro, que é exatamente o que Lúcio Costa
escreveria há 80 anos atrás. O brilho da simplicidade
- título do livro de Glauco - conta como as Igrejas
franciscanas e os barrocos deram a chave do Modernismo. Lúcio
Costa deve ter assim... gozado no túmulo. Você
vê o que é uma pregnância de um pensamento
de 80 anos atrás que acaba fazendo com que as pessoas
se refiram a uma construção hipotética
e discutível como se fosse uma evidência.
Evidentemente, o que é mais sintomático e isso
deve interessar para você é que, a aula inaugural
da UFPE do ano 2002 (na verdade segundo semestre de 2001,
por causa da greve) foi dedicada à apresentação
do livro de Glauco. Na ocasião, o vice-presidente do
IAB/PE, um jovem, de quem fui professora e que está
estudando profissão, me chamou para o debate. E a primeira
coisa que o Glauco disse foram desculpas. Começou se
desculpando pelo o que o livro não é... Não
é sintomático? Um cara, oitenta anos depois,
escreve um livro no mesmo tom do que podia ser escrito na
década de vinte, porque o Ministério da educação
chamou ele para fazê-lo!! E você sabe como é
uma batalha para publicar um livro neste país! Mas
ele foi presidente do IPHAN. Então quando ele senta
numa aula inaugural em Pernambuco, que é a terra dele,
sendo ex-presidente do IPHAN, autor de uma obra qualificada
no Brasil todo, premiada, como o projeto da SUDENE que é
dele, enfim, e outras coisas. Então, ele senta na academia
com o livro dele publicado, homenageado, e começa se
desculpando!!! De que? "Não é um estudo,
isso não é um trabalho acadêmico, eu não
fiz pesquisa, o meu livro não é um livro de
história da arte, o meu livro não..." Eu
achei tão sintomático, era um sinal de que ele
tinha compreendido que a profissão havia mudado. Ele
sentiu o medo que os arquitetos práticos tem da academia
hoje. Eu morro de rir! Podia-se até pensar em alguma
revanche dos fracos e oprimidos: os teóricos da academia
que fazem parte daqueles "que não sabem, só
ensinam" agora de vez em quando atemorizam os práticos,
os sabidos e experientes. Eu morro de rir, porque, já
aconteceu em algumas ocasiões que parecia que eu tinha
alguma coisa esotérica, uma arma escondida, uma coisa
prestes a lançar uma flecha e que eles não agüentam
ouvir. E toda vez que eles participam de mesa de debate comigo,
eles acham que vão ser bombardeados. O que absolutamente
não me interessa fazer. A tal ponto que quero mais
é ficar caladinha, comendo meu aipim lá em Pernambuco,
completamente neutra. Eu não sei o que é que
tanto incomoda... Quer dizer, eu sei: a falta de referência
de quem foi extremamente prestigiado e não está
mais! Então, o prestígio profissional caiu,
a legitimidade caiu, e a clientela de prestígio e gosto
das elites educadas caiu.
Ana Fernandes - Um mal do pessoal que trabalha nessa
área. O que aconteceu com o IPHAN? Ele está
completamnete congelado, ele não renovou as pessoas,
então você continua com um determinado tipo,
com uma determinada forma de pensar... num mundo que mudou
completamente. O IPHAN é hoje uma instituição,
particularmente complicada.
Sônia Marques - Mas o que é mais lindinho
nessa história toda, é como o IPHAN que eu pensei
que ia fechar, como o IAB, que eu também pensei que
ia fechar...pois são, para mim, instituições
do tempo do glamour... Uma dos anos 30, outra dos anos 50,
uma do Brasil antes da revolução de 30, antes
de ser uma federação, em "economês",
instituições fruto das duas substituições
de importação, a de 30 a de 50, não é
isso?, pois são, o IPHAN e o IAB. Duas Fênix,
ambas estão ressurgindo das cinzas!!!
Ana Fernandes - Isso parte da nova lógica de
expansão?
Sônia Marques - Exatamente. Expansão
pós-moderna.
Ana Fernandes - Mas a economia urbana hoje é
movida a isso.
Sônia Marques - O IAB tem dinheiro, tem aumentado
as afiliações, a representatividade. Inclusive
sensibiliza o jovem. Eu acho surpreendente este revival!!
Ana Fernandes - Mas aí é que está.
O IAB passou a ter outro papel na organização
da profissão. Porque, se a gente considerar que estamos
em um período de sintetização, o arquiteto
ganha outro espaço... Mas quais os desafios que estão
colocados aqui pensando na formação e no mercado
de trabalho.
Sônia Marques - Veja bem...eu acho que esta
pergunta na forma em que você a formula, isto é
de quais são os desafios, não caberia na perspectiva
da sociologia das profissões. Quando você coloca
isso, coloca como uma pessoa de dentro. Isso significa: o
que é que a gente precisa fazer para sobreviver, o
que a gente precisa superar... Você quer uma resposta
programática, normativa, um guia de conduta...
Ana Fernandes - o ponto de partida é: existem
faculdades de arquitetura e existem uma produção
de arquiteto e eles precisam existir. A menos que você
coloque em cheque a existência dessa profissão.
Que é uma coisa possível.
Sônia Marques - A coisa que eu acho mais surpreendente
nos últimos tempos é a reconversão profissional
que os advogados conseguiram fazer no Brasil. Quando eu fiz
vestibular na época se dizia que a profissão
de advogado "acabou". Pois hoje, seja pela quantidade
de concursos na área pública que ampliou-se,
seja por mudanças na vida cotidiana, que exigem, como
no modelo americano que as coisas se resolvam a partir da
frase "eu vou chamar meu advogado", ou seja, a vida
contratual invadiu a vida informal e, para a juventude brasileira,
direito é hoje o vestibular mais competitivo. Quando
eu fiz vestibular, quem quisesse passar em Direito passava.
Não tem coisa mais arcaica que essa vocação
bacharelesca brasileira, mas eles tiveram que fazer uma reconversão
profissional, que você acha impossível ocorrer
com o arquiteto. Mas, essa última eleição
do IAB lá em Pernambuco foi muito engraçada.
Há quinze dias atrás... eu comentei com alguém:
o IAB de Pernambuco, quem é que quer mais? Tem não
sei quantos mil arquitetos, só setenta, trinta, quarenta
votaram. Uma diretoria foi eleita apenas por esse número
de pessoas? O que é que essa juventude quer? O que
é que serve disso ai? De repente, me dei conta, serve.
Não só serve, como teve um embate jurídico
e em uma das chapas concorria a filha do vice-prefeito, que
é arquiteta. E essa chapa acusava os arquitetos de
elite de quererem eternizar-se no poder. Elite, que, no caso
local, era representada por Marco Antônio Bortoi, filho
do Borsoi, então assis estava nomeado... Para a chapa
contrária "à elite que se perpetuava"
ser arquiteto não é só ser dono de grandes
escritórios para fazer grandes projetos, pregava contra
este modelo a democratização, a renovação,
e a pluralidade da inserção ocupacional. A pluralidade
é outro termo de economia. Não era inserção
no mercado, era outro termo, mas o sentido era esse. Ai eles
entraram pesado, que era contra os grandes escritórios.
Se você for cotejar uma chapa com a outra, as argumentações
de ambas as chapas soam extremamente falsas. E eu já
tinha demonstrado isso na minha tese, já tinha aprendido
isso na minha vida, numa eleição em que fui
concorrente à vice-presidente... Numa chapa reunia-se
quem nasceu na Ribeira, quem tinha capital cultural, quem
nasceu abençoado porque viveu. Tinha uma composição
feita ali, mas ao mesmo tempo tinha um embate clássico.
Numa chapa você tinha umas pessoas de um certo capital
cultural, se você for pesquisar direitinho quem é
que organiza esse capital cultural? A direita, o açúcar
em Pernambuco... junto com os bem nascidos do açúcar,
naquela época, vinham os intelectuais de esquerda do
partidão, do partido comunista. Nunca vi uma aliança
tão maravilhosa. O outro lado era a esquerda nova,
não oligárquica, como PC do B e PT. Lembre-se
que o PT em Pernambuco não é charmoso como em
São Paulo. Numa chapa com esta predominância,
você pega uma meninada que não tem escritório
de projeto bem sucedido. Então, você tem uma
trama, que você não pode compreender através
de uma relação primária, de tipo causa
e efeito. É uma renda...mas que se você fizer
uma peneira mais fina, em última instância, você
chega àquela razão de uma determinação
econômica e dá a mão à palmatória
a Marx. O engraçado nessa história é
o seguinte: as distinções entre os emergentes
e a elite, as alianças e onde há exclusão.
É a nova classe média, é um novo espectro.
Fica na prefeitura, fica na secretaria de planejamento, fica
achando que está fazendo uma grande revolução
social porque está trabalhando para baixa renda, está
fazendo trabalho de participação popular. Hoje,
em geral, em termos estéticos e culturais são
os setores mais conservadores da profissão, com certeza.
Porque hoje mudou tudo. Quando eu estudei e nos meu tempo
de recém-formada, quando comecei o papo era: "Ah,
você é arquiteta? Tem algum edifício,
alguma casa construída?" Hoje é assim :
"Ah!...a senhora é arquiteta? Esta expondo na
Casa Cor?". Eu acho, caricaturizando, essa mudança
de referência em 30 anos de profissão extremamente
sintomática, Ir na Casa Cor é caro... mas muitas
pessoas terminam conseguindo ir, é uma coisa relativamente
democrática. Antes, quem ia ver os trabalhos de Niemeyer?
Os edifícios públicos que se ofereciam à
cidade? Na casa cor, as pessoas vão, olham uma cor
de quarto...tal...e isso está legitimando o ser arquiteto.
Ao passo que antes ser arquiteto era ser autor do monumento.
É toda a diferença entre obra de arte e produto
ou serviço. Eu disse, na minha dissertação
e depois na tese, que a legislação do CONFEA,
que foi considerada como uma conquista sobre os engenheiros,
na verdade não era nada disto. Ela apenas refletia
o que os arquitetos achavam. A arquitetura, o trabalho do
arquiteto difere daquele do engenheiro porque tem intenção
artística. Era o que o Lúcio Costa achava. A
cidade tem um bando de construção, agora só
tem alguma arquitetura.
Ana Fernandes - Eu acho que tem alguma coisa de arquitetura
que não necessariamente os arquitetos fazem. O que
eu sinto é o seguinte: a gente hoje está considerando
um pouco da referência; tem duas formas de problematização
da arquitetura: de um lado você tem a problematização
corporativa da arquitetura, que é aquela que precisa
produzir espaço, de grande legitimidade social, que
em geral são estreitamente ligadas ou ao consumo acelerado
ou a legitimação da gerência. E outro
lado, eu acho que ainda uma coisa confusa, mal formada, emergente,
que é a problematização da arquitetura
enquanto direito. Não a arquitetura enquanto a concepção
elitista da profissão, mas a arquitetura enquanto digamos(...)
Ana completar
o trecho - fim do lado da fita.
Ana apresenta Alfredo Behrens (de São Paulo)
Alfredo - Apenas 50% das novas moradias são produzidas
por arquitetos. Bom, num país em que se pode pagar
o serviço de um arquiteto. Nas nossas cidades subdesenvolvidas
hoje, toda essa infra-estrutura não existe, a tendência
a verticalização é imprescindível,
porque se você afasta se afasta daquele centro não
tem serviços públicos. Com essa verticalização
você tem que um arquiteto é capaz de proporcionar
moradia para cinqüenta famílias. Coisa que não
existia na década de 30, então, necessariamente
a demanda de serviço de arquiteto passa a se concentrar
na construção de prédios. Que desemprega
boa parte do contingente de arquitetos que estaria formando
e que procura outra saída em desenhar móveis,
cinzeiros e a Casa Cor.
Ana Fernandes - Veja... Primeiro, existe uma tendência
de mercado, como o Brasil é concentrador de renda,
a renda das camadas inferiores cada vez é menor. E
a decoração virou um serviço... Outra
coisa, é que por uma série de processos, eu
acho, a questão da arquitetura se generalizou. Porque
que ela se generalizou? Primeiro, porque você expandiu
de tal forma o ensino que você hoje congrega camadas
sociais, que não são mais a elite dos anos 30.
A segunda coisa, eu acho que as referências de demandas
sociais elas se sofisticaram num certo sentido, quer dizer,
hoje não adianta só ter a casa, mas tem que
ter a casa que tenha conforto, que tinha ventilação,
que tenha infra-estrutura, que tenha equipamento público,
que tenha acessibilidade, que tenha proximidade dos centros
de empresa, etc. Quer dizer, é uma construção
social. Que acaba desaguando numa solicitação
profissional como a que está sendo feita em relação
a arquitetura hoje. Por outro lado, eu não tenho...
pode ser um pensamento um tanto, daquela coisa que determina
o mundo...que eu brigo com Pasqualino o tempo inteiro, um
modelo hoje, que a capilaridade do crédito é
de tal tamanho, tal importância, que a arquitetura,
ou determinadas fatias da profissão do arquiteto, acabam
sendo fundamentais para isso. A regularização
fundiária promovida pelo BID do meu ponto de vista,
pelo Banco Mundial, não é outra coisa a não
ser, possibilidade de regularização, de contrair
importância de colocar isso como contrapartida de crédito.
Eu não tenho dívida. Nunca acreditei que o Banco
Mundial tivesse algum interesse humanitário. Mesmo
porque, cada vez mais, ele opera como Banco internacional.
Com juros, com taxa de juros, regulados pelo mercado, etc.
Aquele caráter que ele em alguma empreendimento, até
chegou a ter de subsídio, ajuda ao desenvolvimento,
etc. Enfim, pelo que eu tenho visto não existe mais.
Alfredo - Existe mas não para o Brasil.
Ana Fernandes - Para África! Para aquela situação
que é melhor manter, é melhor conseguir estabilidade
política do que luta tribal que acaba com toda mundo.
Alfredo - Mas esses arquitetos que estudam como construir
casas, e acabam desenhando móveis não teriam
perdido muito tempo...
Sônia Marques - Essa que é a questão.
Não, eu não acho que acabam desenhando móveis.
Você tem uma geração nova. Um suporte
importante, porque o corte geracional tem haver com o que
mudou no interior de uma cultura profissional de uma geração
para outra, mesmo sob constantes históricas, sócio-ecônomicas,
variáveis de mercado, etc...
Ana Fernandes - E a consultoria gratuita, você
colocaria como corte geracional?
Sônia Marques - Eu acho que os cortes geracionais
têm que ser analisados numa perspectiva dupla. Em relação
aos cortes históricos clássicos econômicos,
ao macro-contexto e em relação à evolução
da própria profissão. Porque se você pegar
o mercado de economia, ou de medicina ou direito, achará
uma série de aspectos que não são validos
para o mercado de arquitetura. Por quê? Porque você
tem que ver qual é a base cognitiva de cada serviço
profissional, em cada momento da conjuntura. Porque para o
arquiteto esta foi favorável a partir da revolução
de 30, na primeira industrialização e sobretudo
nos anos 50 com o desenvolvimento do Brasil. Vai declinando
a partir de 64. Nos anos 70, o mercado amplia-se, mas, é
conduzido por uma clientela pouco exigente; a produção
de muitos serviços profissionais de arquitetura sem
qualidade, "desqualifica" o profissional, se pudéssemos
resumir desta forma. Se você pegar algumas profissões
ali não entram nessa conversa de força. Se você
pega um corte geracional hoje... veja só : a concorrência
em Pernambuco para Design estava maior que para Arquitetura
quando meu filho fez vestibular, em finais dos anos noventa.
Então, se está mais competitivo é porque
o mercado está melhor. É uma lógica que
não precisa nenhum economista demonstrar.
Alfredo - Eu acho inclusive que se uma pessoa é forçado
a morar em prédios que não permite uma grande
expressão individual do lugar onde ela gostaria de
morar, como antes... o arquiteto fazia a tua casa. Hoje em
dia você mora onde pode. Nesse processo a pessoa coloca
muito mais esforço na elaboração interna...
Sônia Marques - Sim, é isso aí.
A questão que eu estou dizendo do móvel, do
mobiliário, é que tem gente que fazendo um móvel
está ganhando mais do que muito projeto. Bom, eu acho
que a gente tem uma tradição brasileira que
a grande arquitetura brasileira foi uma arquitetura não
paga, que foi a arquitetura pública, de monumento.
Só essa história levou cinco anos, formou. Aí
vem o raciocínio do economista, mas precisa de cinco
anos de curso? Se for para fazer o que o mercado absorve,
que é decoração, precisa cursar cinco
anos de arquitetura e ainda agüentar tanto professor
de História e Teoria, como eu, chateando a vida do
estudante? Tudo isto para fazer decoração...
E eu acho que isso agora está resolvido. Porque tem
o curso serial e o pessoal está pedindo decoração.
As particulares estão montando decoradores... e qual
o problema? O grande problema é o seguinte: o que é
que realmente instaura novidade. A questão que o ensino
nunca está ajustado às questões de mercado,
seja nos EUA, na França...
A lógica do mercado de arquitetura é muito parecida
com a lógica do mercado de moda. Que é extremamente
cruel. Então, isso que Ana está falando, da
lógica social, da qualidade... mas é um mercado
residual. O grande leigo da profissão, chamei um arquiteto!
Se você for a uma casa, onde houve a intervenção
de um arquiteto, quem pagou tanto por um arquiteto quer exibir
esta presença, em geral. Daí que não
pode haver... a discrição, sob a nova democracia
cheia de emergentes de padrão Caras, Miami, Orlando.
Discrição exige uma leitura. Na ausência,
no analfabetismo, dizem:"Isso você mesmo fazia,
não precisava de um arquiteto". Precisa de uma
leitura muito mais apurada. Então o arquiteto é
chamado, como estilista, para botar a melancia na cabeça,
de certa forma. O arquiteto chega como a distinção.
E o que era a distinção? Para as vanguardas,
ou os empresários, ou as elites, dos anos 30, 40...Nunca
que um Romário, Carla Perez vai querer que Brunette
de Fracarolli deixe de botar três cortinas onde bastava
uma...
Ana Fernandes - Quem é Brunet de Sacarole?
Sônia Marques - Você não conhece
Brunet de Sacarole ? A paulista decoradora, que junto com
Sig Bergamin e João Armentano aparece em tudo que é
revista de decoração de interiores...Ela já
virou até minimalista de tão cansada de tanto
enfeite. Então, essa coisa da novidade, você
tem que vender serviço. Evidentemente que esse serviço
chega de Milão. Aí não sei quem compra,
vai lá e repete. Isso, aliás, não é
nenhum fenômeno novo, porque muitos dos nossos modernistas
agiram assim. E a gente vê inclusive a diferença
quando vários arquitetos que foram modernistas muito
bons e que hoje são chamados para fazer coisa diferente
não conseguem dar o "aggiornamento". Porque
eles aprenderam de memória a fazer uma coisa modernista,
aprenderam mimeticamente, mas, não aprenderam o que
era arquitetura em geral. Então, quando eles tem que
trabalhar com outra linguagem fazem "n'importe quoi".
Alfredo - Como se escolhe um arquiteto para fazer uma casa
essencialmente para nós? É outras coisa que
ele já fez?
Ana Fernandes - E pela inserção social
que você está. Se você tem três filhos,
você precisa de três cômodos.
Acho que algo ficou truncado aqui pois minha resposta não
corresponde às perguntas, será que o recôncavo,
as caipirinhas e a companhia enevoaram minhas idéias?
Sônia Marques - E isso é uma coisa
muito legal para mim, pois, pelo fato de estar em sala de
aula. como professor de história, não dá
para saber se o aluno é bom de projeto. O cara pode
ser bom de papo e pode ser. Ruim de desenho, de concepção.
O ruim é como eu vivo escola...o mercado é outra
coisa.
Ana Fernandes - A faculdade foi chamada para participar
de um prêmio da ADEMI, que é a associação
Dirigente de Empresas Mobiliárias. Eu fui. Ai eu vi
todo projeto, e escrevi um parecer sobre aquilo. Na hora que
eu li o parecer, os caras me olhavam assim... como se fosse
algo de outro mundo. Como é que alguém está
falando essas coisas. Isso porque eu passei por um processo
de depuração. Não é um prêmio
de arquitetura, é um prêmio de empreendimento
imobiliário. Você tem que deslocar a coisa. E
ai para o presidente do SINDUSCON falei : vamos fazer uma
discussão de arquitetura na faculdade que arquitetura
na Bahia vai mal. E ele me disse: "Mal, mas nossos arquitetos
são tão felizes... são tão reconhecidos".
Então vamos discutir se vão realmente bem! é
muito complicado!
Sônia Marques - Sim, mas o Costa de Sauípe
por exemplo, eu fui para Vitória, num congresso de
Turismo onde o arquiteto...
Ana Fernandes - André Sá!
Sônia Marques - Minha ignorância é
tanta, que eu fiz uma palestra, logo depois da abertura do
congresso e ele estava lá. E daí eu estava falando
nessa história, que para não ter uma visão
maniqueísta em relação ao turismo, que
finalmente, várias coisas estariam totalmente destruídas
mas outras ficavam. Quer, é claro, havia coisas do
tipo Costa do Sauípe e que eu li numa revista dessas
de turismo falando sobre o que é ser brasileiro e que
perguntava após o onze de setembro de 2001: Você
faz turismo no Brasil e vai para onde? E haviam respondido:"Me
orgulho de ser brasileiro, de ir para Salvador, ver o Aeroclube!".
E uqu eu achara isto terrível, pois o Aeroclube é
a coisa mais feia que existe aqui. Além de ser recente,
junto da riqueza arquitetônica que se encontra aqui...
Se você falasse de um Aeroclube em outro canto, em cidade
que se urbanizaram tardiamente.. Porque é aquele shopping
típico de periferia norte-americana, para pegar o carro
e ir quando você está chateado da vida e não
tem mais o que fazer. É o Aeroclube. O cara colocou
isso numa revista, como a maravilha de Salvador, eu achei
um pouco demais! Alguma coisa está acontecendo...
Ana Fernandes - Eu acho que não é imediatamente
memorável do ponto de vista econômico, que é
a autonomia cultural...
Alfredo - Tivemos uma conversa anos atrás com um jovem
arquiteto francês. Ele tinha visitado Brasília
e tinha ficado encantado e tinha feito muitas coisas, estava
casado com uma maquetista que trabalhava para Piano e Roger,
aquela turma... E disse: nós fazemos novas cidades...
Não precisamos disso. Ai eu disse: "Bom, o Brasil
cresce 3% ao ano. Necessariamente não cabem as pessoas
nas casas das pessoas que estão morrendo, como na França.
Então você precisa expandir essa cidade ou criar
uma nova. Por isso há uma grande demanda para arquitetura".
Agora a pergunta para vocês: o Brasil está envelhecendo.
No ano 2025 vai ter bastante mais velhos do que tem hoje.
E então? Aonde que vai sair a nova demanda dos arquitetos?
Sônia Marques - A questão é lógica.
Mas o que é que é a necessidade? Não
Há como confundir necessidade e demanda. (Rubens Vaz,
quando na direção do BNH era cruel, mas era
claro sobre o assunto). Os velhos que tiverem dinheiro para
comprar... podem fazer um novo perfil de clientela... Agora,
ainda tem que considerar outra diferença entre demanda
e necessidade, que é o fato de que "neguinho"
é capaz de passar fome, e, ao invés de comprar
a cesta básica, botar mega hair no cabelo... aí
você já está trabalhando em outro campo
da necessidade, pois há as da fantasia e as do estômago,
para citar Marx. E a arquitetura faz parte do campo da fantasia.
Alfredo - Eu não concordo. É uma despesa muito
grande para uma família ficar só no terreno
do imaginário.
Ana Fernandes - Não é não. Porque
assim, primeiro, que a demanda em relação a
arquitetura tem sido ainda agora pública, que é
uma demanda que está sendo colocada em relação
ao Estado. A discussão que se estabelece em relação
a qualidade, ao tamanho das habitações, a qualidade
etc, etc. tem como interlocutor o estado, porque quem deve
fazer esse tipo de coisa. Não é um mega hair
individual. Porque o mega hair individual é a classe
média que está ampliando a demanda em relação
à decoração... Mas a população
de baixa renda mesmo e tem uma demanda que não se dirige
ao arquiteto. Se dirige ao Estado ainda...
Sônia Marques - Mas você está
assumindo que o estado está realmente ouvindo e sendo
intermediário da demanda de sua população
o que é dificílimo.
Ana Fernandes - mas é um ponto de conflito,
agora é sintomático que o estado, no caso da
Bahia, tenha contratado a para fazer alagados e por outro
lado várias outras experiências de habitação
popular são experiências daquelas que você
estava descrevendo dos anos 70. Ruim, de péssima manutenção,
nada de durabilidade.
Sônia Marques - Se você pegar o Pelourinho,
Bom Jesus do Recife... A requalificação de centros...
Se você pegar pelo lado da demanda da população,
você não explica.
Ana Fernandes - Porque a população no
nosso Pelourinho foi expulsa.
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